Das ressacas
Nem sempre é hepática, resultante de excessos do
beber ou de ingerências da comida. Às vezes é emocional, das coisas,
dos eventos repletos de mensagens ou vazios da vida. Da ingesta indigerível de
fatos, atos, ocorrências... percepções, anseios... externados ou não.
A existência impõe dessas situações: nem tudo é como desejado,
nem tudo é bem feito, acertado, escolha ponderada, bem tomada, consciente. E o
resultado, esse não falha, vem depois.
A manhã desperta torta, ou não desperta, só levanta. Sequer
acorda, só acontece... marcada por ponteiros, em minutos, horas que rodam como rodam
idéias e sentidos, já cambaleantes ao deitar, trôpegos, bêbados dos
acontecimentos do dia.
O céu é cinza seja qual for sua cor. Não há brisa... mas
torpor. Algo assovia e não é vento. Algo balança e não é rede. Uma bigorna
ocupa o espaço entre as orelhas, fazendo o pensar passear, pender, erguer-se...
em busca de equilíbrio.
O mar acontece na cabeça. Pensamentos vêm em vagas, uns sobre
outros, em sequência, arrebentando em espuma de sensações estranhas, mal
definidas, atropelando amiúde o bom senso.
Corpo, o que é corpo ? Algo se movimenta. E dói, moído,
surrado que foi em briga interna, no embate entre ondas, antes de sucumbirem e
entregarem-se deslizando sobre a areia. A marcha é dos pinguins, em bloco, esquisita, sem fluidez,
tentando manter de pé o que quer deitar. E os olhos, ah, sem brilho, sem
graça, como de peixe.
Nada-se em correntes de ações frias e sentimentos
acalorados, embotados, embolados, repletos de nós.
A esperança é que, na trilha do tempo, aos poucos
encontre-se bússola, ergam-se velas, alcancem-se remos... e a embarcação possa
aprumar-se, acertar rota, retomar rumo, ajeitar destino.
Bommmmm dia !