Das praias

No olhar
Ando o mar
Nado a areia
Namoro
Onda a onda

Em silêncio
Encontro sentido
Colho paz
Espumo prazer.

Bommmmmm dia !

Dos cultivos

Preservação & crescimento

Energias se sustentam alimentadas.

Erro idear conquistas garantidas, perenes...

Porque apenas alcançadas.

A terra frutifica adubada amiúde,

Cultivada.

O corpo, casa de posse natural,

Atravessa, passa...

Ou com leveza e graça

Desfila a vida.

Opera bem ou mal

Dependente de desvelos,

Oferta frequente

De boa água e comida.

E o coração,

Ah, demanda tanta ou mais atenção !..

Fertilizantes, cuidado constante.

Não bate bem, abandonado.

Não amanhado, mingua, adoece.

Não resiste mal-amado,

Desnutrido...

Sem paixão.

Bommmmmm dia !

Das perdas

Perder é privar-se... 
Das experiências.

Essas, sim, impagáveis, seja qual seja o final !...

Esse, em verdade, igual...

Pois a vida é o recheio.

Viver não é o fim, 

Mas o meio...

Único modo 
De ser feliz.

Bommmmmm dia !

Das ressacas

Nem sempre é hepática, resultante de excessos do beber ou de ingerências da comida. Às vezes é emocional, das coisas, dos eventos repletos de mensagens ou vazios da vida. Da ingesta indigerível de fatos, atos, ocorrências... percepções, anseios... externados ou não. 

A existência impõe dessas situações: nem tudo é como desejado, nem tudo é bem feito, acertado, escolha ponderada, bem tomada, consciente. E o resultado, esse não falha, vem depois.

A manhã desperta torta, ou não desperta, só levanta. Sequer acorda, só acontece... marcada por ponteiros, em minutos, horas que rodam como rodam idéias e sentidos, já cambaleantes ao deitar, trôpegos, bêbados dos acontecimentos do dia.

O céu é cinza seja qual for sua cor. Não há brisa... mas torpor. Algo assovia e não é vento. Algo balança e não é rede. Uma bigorna ocupa o espaço entre as orelhas, fazendo o pensar passear, pender, erguer-se... em busca de equilíbrio.

O mar acontece na cabeça. Pensamentos vêm em vagas, uns sobre outros, em sequência, arrebentando em espuma de sensações estranhas, mal definidas, atropelando amiúde o bom senso.

Corpo, o que é corpo ? Algo se movimenta. E dói, moído, surrado que foi em briga interna, no embate entre ondas, antes de sucumbirem e entregarem-se deslizando sobre a areia. A marcha é dos pinguins, em bloco, esquisita, sem fluidez, tentando manter de pé o que quer deitar. E os olhos, ah, sem brilho, sem graça, como de peixe.

Nada-se em correntes de ações frias e sentimentos acalorados, embotados, embolados, repletos de nós.

A esperança é que, na trilha do tempo, aos poucos encontre-se bússola, ergam-se velas, alcancem-se remos... e a embarcação possa aprumar-se, acertar rota, retomar rumo, ajeitar destino.

Bommmmm dia !

Dos curativos

Poetas poupam esparadrapos.
Cuidam das feridas de dentro pra fora,
Do fundo à superfície,
À luz do sentir...
Lambendo-as com silêncio,
Salpicando-o de versos.

Bommmmm dia !

Ups ! 

Há desencontro nas buscas,

Imprevisto no planejado,

Tropeços no plano,

Desalinhos na afinação.

Não há espetáculo sem ensaio.

Sem abaixar não se levanta.

O andar tem o cair

E o voar o ir ao chão.

O grande vem de pequeno,

Mini pode ser super,

O mal pode ser bom.

Acertar requer tentativa,

Crescer pede paciência,

Evolução persistência,

Dedicação.

Ninguém passa a limpo sem rascunho.

Sucesso contém fracasso,

Acertos andam com erros.

Aprender demanda tempo

E o transformar...

Aceitação.

Bommmmmm dia !

Das delicadezas 

Da palavra ao silêncio atento,

Do toque manso ao olhar intenso,

O contato delicado costura sentimentos, 

Tece boas emoções.

Escreve estórias

Declarando desejos, 

Consumando intenções.

Cria, estabelece, define elos...

E relações.

Delicadezas eternizam memórias,

Aproximam mentes,

Unem corações. 

Bommmmmm dia !

Das ligações

Ao lado longe
Não basta,
Alheio emotivo que é.

Distante perto
É possível
Se o peito o souber.

Sentimento de falta
Aponta partida.

Presença ausente
Acena adeus.

Bommmmmm dia !

Expurgo/expiação

Todos temos

Filtros e anteparos.

Meios, modos, maneiras

De ver, viver...

Virtudes, vícios...

Pelas vias várias dos sentidos,

Conscientes ou não,

Repletos ou pobres

De sentidos,

Sentimentos

E razão.

Todos temos

Nossos tipos de reza,

Nossas formas de exorcismo,

Rosários e chicotes,

Indultos, preces, penitências...

E perdão.

Ferramentas, tentativas

De depurar a existência

Ou simplesmente resistir,

Dar desvios

E correção.

Cada um é sua cria:

Soma e subtração,

Variável e resultante,

Exclusiva equação.

Bommmmm dia !

De mente

Absorve,

Registra instantes.

Capta o conjunto amplo, 
Maior que as partes,

Que o computado

Consciente de atenção.

Ativa, dorme acordada.

Coleta, processa,

Mastiga tudo...

E comunica.

Põe-se a parir,

Faz nascer,

Dá à luz.

Exprime, expressa, informa

Em forma de pensamento,

Sensação.

Tentando traduzir,

Produz...

Pistas,

Mensagens cifradas,
Imagens,

Respostas
E mais...

Informação.

Bommmmmm dia !

O certo é... duvidoso

Certo ?

Só que o certo é relativo

Posto que é substantivo,

Artigo pessoal...

Divergente

Em tempo, cultura,

Condições...

De gênero, número, grau.

Certo ?

Só que o certo é diferente

Segundo o que se vive,

O que se sente...

Entre mentes, regras, razões.

Certo ?

Que a terra, já quadrada,

Hoje é redonda...

E, sólida, mais mar.

Certo ?

Só que o certo é dependente

De olhares, referências,

Ferramentas, instrumentos

E visões...

De presente,

Sentimento do agora,

Ciência do momento.

E depois ?

Bommmmmmm dia !

Das asas

Tenho asas...

Como o destino

Que se desvela em movimento,

Sem força, sem domínio.

Asas de ser e de deixar,

E conduzir sem controlar...

Amor e dor.

Asas de tentar

Estar

Inteira...

Na ação e no sentir. 

Asas de abraçar quem quer ficar,

E libertar quem quer partir.

Asas de viver tudo...

Intensamente.

Asas n’alma e na emoção

De ser de mente.

Assim...

Posso voaaaar !

Bommmmmm dia !

Das con-tensões

Quão intenso

O desencontro

Da conversa

Que não conta,

Pouco fala.

Quanto falta,

Quanto perde

Quando fica

Acuado o sentimento

Em sobra de intenção !

Desperdício,

Que tristeza !...

A alma clama

A voz disfarça,

O peito guarda...

Perdem as partes,

Perde a soma,

A relação. 

Bommmmmm dia !