RENOVAação

Incorporamos, sim, a matéria.

Somos carne...

Que cai, dói, arde, irrita, arrepia...

É maior, contudo, o que nos recheia...

E sustenta, e levanta, e impulsiona,

E renova, e recria.

Andar é adiante.

É preciso virar páginas

Para escrever novas estórias.

Abraço o que me chega,

Solto o que quer partir.

Bommmmmm dia !

IMAGINAação

Imagina a ação,

Faz de sonhos, visões...

Processos de mente

Em matéria de viagem.

Do passeio de sentimento

Faz imagens,

Emoção.

Deveria bastar...

Porque o pensar

Supera sempre o real,

E tudo pode

Daquilo que se quer.

Imaginar é ter

Infinito.

Bommmmm dia !

Do frio

Movidos pelas demandas externas, pelos apelos da sobrevivência, habitualmente pilotamos a existência tendo o mundo ao redor como foco, desviando-o de nós mesmos, esquivando-nos de guard rails e acelerando rumo ao futuro ansiado.

Mas o frio invoca introspecção, pede algum recolhimento. Ele convida ao encontro de cada um consigo mesmo. Chama o ser mais para si ao nos fazer encolher, encapsular no próprio corpo. Encasulamo-nos em agasalhos, entre paredes. Fechamo-nos, nos retraímos. Acostumados a olhar para fora, somos mais estimulados a passeios íntimos... dentro de casa e de nós mesmos.

O frio atrai-nos à posição fetal – numa tentativa de retorno ao universo particular. Convida-nos ao silêncio - onde nossos próprios pensamentos podem ser ouvidos e interrogações internas são capazes de despertar ou ser alçadas do exílio. 

Afeitos a correr, somos impelidos a reduzir marchas. Habituados a admirar o palpável, somos convidados a contemplar o invisível. Quando, no entanto, somos incitados a olhar para dentro tendemos a resistir. Por quê ? Qual o perigo em agregar informações e acoplar novas rotas ?

Enxergar dentro é ver melhor fora. Alcançar o interior é ampliar o exterior.

O frio pode aquecer !

Conhece-te a ti mesmo é a máxima para os invernos... para colheita em todas as estações.

Bommmm dia !

Quando é preciso...

A tristeza não se banha só de lágrimas,

Traveste-se também de falsos risos.

Nem tudo pode ser expresso

E o corpo disfarça,

E o pranto seca,

E a voz cala,

E a alma chora

Com dor sem canto...

Quando é preciso.

Bommmmm dia !

Energia

Há energia nas imagens,

Nas palavras, no toque...

Ah, quanta energia no olhar !...

No sonho, no ato, no desejo,

No som e no silêncio,

Na quietude e movimento,

Na matéria, em sentimentos...

Na troca, soma e divisão.

Em terra e água,

Às claras

E à luz da escuridão.

Em flores, céu, matas...

Nas relações, na união.

Em meu corpo há fogueira,

No peito um vulcão.

Sou usina de energia,

Matéria d’alma...

E emoção.

Bommmmmmm dia !

Mãos dadas

Pele na pele, calor com calor, sentimentos entrelaçados: tão bom falar com as mãos !

Quando se encontram, no contato delicado de epidermes surge o encanto.

Em mistura de ansiedade, aventura e prazer, unem-se as palmas dos recém apaixonados. Seu encontro é uma barreira ultrapassada. O contato põe fim à expectativa e dá início à realização. Encerrada a espera, a inquietude abre espaço à confiança.

O entrelaçar de dedos indica mudança de estágio da relação: pode-se entrar pela porta da esperança, agora escancarada. Todo o corpo é informado, todo corpo sabe disso, propagada a notícia através da emoção: essas são mãos de paixão.

Algumas outras são mais contidas. Convivem, dividem espaço mas não se envolvem, envergonhadas. Amam mas não se entregam. O contato revela, deixa ver ser vivo. Seu entrelaçar é parto difícil... que dá à luz a união: essas são mãos adultas, de pais e filhos, de amigos, de irmãos.

Maduros, costumamos amar mudos. E se poucas são as palavras, raros são os gestos... porque o toque grita, nos descortina, expõe, entrega. Queremos muito falar. Não conseguimos dizer. Tememos ser vulneráveis, policiando a emoção, não nos permitindo seus sabores.

Que nossas mãos se encontrem... com encanto. 

Que gritem e que os corpos ouçam. E que todos saibam disso.

Temer viver ? 

Bommmmm dia !

Por conta do tempo...

Ah, não há pressa !

O tempo anda a seus passos,

Não aos nossos.

Mostra, revela...

O que a gente não sabe

Ou só não percebeu.

Deixar por conta do tempo

É entregar...

E fluir...

Em algo maior.

Deixar por conta do tempo

É acreditar

Que há hora certa,

Lugar... 

Momento certo de saber,

Forma melhor de aprender,

Pessoa boa pra ensinar.

Deixar por conta do tempo

É atuar...

Aceitando reticências.

O que é preciso surgirá,

O que é importante ficará.

Bommmm dia !

Tautocronia

Estou com você agora.

Mais que isso, estou em você neste instante.

Ao passar os olhos sobre a tela passei a ser pedaço seu.

Ao abandonar este texto, esta imagem, levará, ainda, um pedaço meu consigo.

Entro por sua retina, passeio por sua consciência e alojo-me em uma gaveta de sua memória.

Viajo com você: você me abduziu.

Possui-me... e continuo inteira, à distância.

Assim posso estar, ao mesmo tempo, em mais de um lugar !

Enquanto me alcança no olhar, adentro-lhe o universo e, sem que perceba, tomo algum espaço.

Estou em seu interior neste instante.

Dirijo sua imaginação, piloto seus pensamentos, levo-o a viajar em minha companhia.

Carrego você comigo: o abduzi.  

Ao me mostrar me dividi com você.

Assim posso me replicar, estando ao mesmo tempo em mais de um lugar !

Em você... permanecendo em mim.

Podemos ser um, assim !

O conduzo, você me contém.

Quem abduz quem ?

Bommmmmm dia !



Arquivos

Guardar lugar para raiva ?
Perder espaço com ressentimento ?
Irrito-me, esperneio, ficando brava...
E o vento leva...
E a alma lava.

Bommmmm dia !

Do crescimento

Sentimo-nos, às vezes, tolos,
Sem rédeas de sentimentos.
Passageiros...
De situações e de nós mesmos,
Sem governo desejado de emoções.


Sentenciamo-nos, às vezes, idiotas,
Sem domínio,
Receosos de julgamentos,
Temerosos de derrotas.


Dores do crescimento ?
A honestidade trata...
Tranquiliza, pacifica.
A transparência aplaca.

Bommmmmm dia !

Convide a vida

Afrouxe, alargue as rédeas.
Não se abandone
Nem deixe de lutar.
Mas abra portas,
Frestas, pertuitos...
Deixe espaço
Pra vida entrar...
Ou passará por ela,
Avistando-a, de longe,
Acenando à janela,
Indo a outro lugar.

Bommmmm dia !

Alegrias & felicidade

Sem dúvida há várias coisas que podem traduzir-se em contentamento, em momentos de alegria. Mas nada além de momentos - espaços delimitados de tempo - depois dos quais retomamos nossos estados originais.

Coisas, objetos, lugares são estímulos temporários que se esvaem como vêm, que vêm como vão. Passam como tudo passa, colorindo instantes que têm nada além dessa exígua duração.

Nada comprável nos transforma, altera a nossa essência. Nada pontual pode mudar além de um intervalo de tempo, pode ser além de um impulso à emoção. Podemos ir às nuvens por alguns instantes... mas naturalmente retomamos nosso estado “inicial”, nosso ser natural... se a atenção a algo maior não for constante.

Nada adquirível, nenhum bem material é garantia, é seguro, é certeza. Nada permanece euforia, nada mantém para sempre a emoção exultante, o contentamento contente.

Nada, por mais que dure, é eterna magia. Não há coisa ou lugar que nos proporcione mais que momentos - passageiros - de alegria !

Bommmmmmm dia !

As próprias sentenças

Bebemos do mesmo momento... ainda que à distância.

Nossos horizontes se encontram... em algum lugar.

Pensamentos passeiam... para nos unir...

Quando ocupamos o mesmo espaço... no sentir.

Somos nossas sentenças.

Bommmmm dia !

Antenas

Nossas antenas sofrem regulagens periódicas e alteramos, quase naturalmente, nossas frequências de recepção. Concomitantemente modificam-se qualidade de informação computada, intensidade de captação, brilho, contraste...

Percebe-se, olhando para trás, que melhora também com o tempo a nitidez. Nossos receptores ampliam suas capacidades tornando-se mais sensíveis.  Apuram-se os sensores de cor, temperatura... como também os modos de transmissão.

Somos antenas... e os estímulos contínuos, ininterruptos ao nosso redor. Temos, no entanto, olhos de quem quer ver... enxergando apenas o que estamos prontos para receber e processar. Tudo mais nos parece estranho, alheio a nosso universo.

Acreditamos sempre saber, não importa a idade. Tentamos dirigir a vida forçando passagens, entradas... porque assim pensamos que deve ser. Mas é sem pressa que ela, em sua infinita paciência, sabe ensinar, mostrando no tempo apropriado o que é importante aprender.

O universo sempre sabe mais que nossas vãs razões. Renova-nos, apesar de nós, momento a momento, abrindo janelas, mentes, corações... ou batendo-nos as portas, bloqueando caminhos, impondo-nos dúvidas, crises, decepções. Ah, são tantas as suas formas de mostrar o que não queremos ver !... Mensagens se repetem, idênticas, ou travestidas em outras roupagens, até que estejamos prontos.

Decifrar a linguagem da vida é exercício contínuo, eterno. Entretanto as ferramentas podem ser escolhidas e ajustes de recepção são possíveis. Podemos ser antenas mais potentes, de maior alcance e sensibilidade. É possível apurar o nosso ver... para um melhor viver !

Bommmmmm dia !

! ... ?

Somos outros seres.
Nem mesmo os de ontem existem mais.
Cada hora acrescenta,
Cada dia furta, subtrai.
Vamos abrindo trilhas,
Deixando rastros, colecionando marcas...
Trocando, passo a passo,
Crer por questionar,
O ter pelo buscar,
As dúvidas pelas certezas...
Que, de incertas,
Hão de mudar !...

Bommmmmmm dia !

Retrato... dos retratos

Olhos apontam,

O olhar atira...

Para além das figuras.

Mira a imagem

Mas vai adiante,

Ultrapassando os sentidos.

Sente...

Com algo mais.

Transporta o ser

Para o alvo,

Amplia o prazer,

Desloca a mente,

Explora a emoção.

Coloca, nos olhos,

O coração.

Bommmmm dia !

Melodias do amor

Melodias não audíveis nos conduzem.

Há um acerto, um contrato

Entre visão e tato, paladar e olfato...

Que nos permite perceber, vivenciar...

Música sem instrumentos,

Dança sem movimento...

Sabor no olhar,

Perfume em beijos...

Compondo os concertos do amor.

Quem ama é músico,

Maestro, cantor...

Partitura...

E autor.



Bommmmm dia !

Ser inteiro

Crianças são inteiras: pacotes de naturalidade.

Tudo nasce, tudo sai, tudo transborda sem filtros, sem barreiras. E isso encanta.

Somos quem somos na infância.

Ainda não temos conflitos existenciais, ainda não nos questionamos, só agimos... revelando nosso produto interno bruto, exalando nossa essência.

Crianças são o retrato da plenitude... que passaremos o resto da vida buscando reencontrar, tentando reaver. Crescidos e esquecidos de nossas naturezas, procuramos essa benesse fora de nós, como algo desconhecido.

Como se nunca a tivéssemos experimentado, não percebemos seus esconderijos.

Crianças são enquanto adultos estão.

Adultos estão partes... somadas e subtraídas ao longo da existência. Adultos estão inquietos, insatisfeitos. Na maior parte do tempo sentem-se inadequados. Estão em busca... mas não sabem ao certo de quê. Anseiam ser algo que já foram: inteiros !  

Adultos estão seres perdidos... que se encontram quando recuperam, maduros, a criança dentro de si !

Bommmmmmm dia !

Mudar de roupa

Como modificar-me sem saber quem sou ?

Ações são reflexos...

De interior.

Olhar ao redor me localiza,

Olhar para dentro me encontra.

É da descoberta que devemos nos vestir !

Bommmmm dia !

AMOR... em nós

Tens em ti parte de mim.

Carregas contigo o que me falta...

E assim me possuis... como eu a ti.

O que me completa te arremata,

O que nos une, invisível,

Costura, ata.

O amor nos constrói.

É a paixão que mata.

Bommmmmmm dia !

Desejo...  de Posse & Poder

Geralmente não nos satisfazemos em ter parte de algo, queremos o todo, ter tudo. A lição de dividir, compartilhar é uma das mais difíceis de aprender, de incorporar. Pior quando envolve pessoas. Pior quando as entendemos como coisas, objeto de governo.

Apresentamos dificuldade em administrar o convívio sem sucumbir à tentação de domínio, sem tentar fazer dos parceiros uma parte de nós, menor. De algum modo buscamos colocá-los sob nosso julgo, de forma a serem parte de nossas vontades, nossa natural extensão: uma maneira de nos sentirmos fortes. Eis um alimento que não nutre, não sacia... mas vicia.

O controle parece nos fazer poderosos. Comando e posse confundem-se com sentimentos de superioridade e invulnerabilidade... irreais. Promovem conforto e satisfação momentâneos, que não se sustentam... e pedem mais !... E pedem sempre, e cobram, e asfixiam, e saturam. Acaba por faltar equilíbrio: falta respeito !

As relações de propriedade só existem à custa de alguém, em detrimento do outro. Não são envolvimentos naturais de doação e troca mas de cobrança e recriminação. E não serão diferentes se não entendermos que podemos ser um mais forte sendo dois unidos, sem anular alguém. 

A partir do momento que compreendemos – e aceitamos - que ninguém nos pertence, quando percebemos que dividir não tira, mas acrescenta... é possível compor uma melhor equação. Lembrando que muitas vezes é preciso ceder para somar !...

Para sermos fortes não precisamos de um outro ser diminuído !

Posse não é poder !

O verdadeiro poder é apoderar-se de si... procurando crescer !... 

Bommmmmmm dia !

Transparente

O amor não demanda discurso.

Declara-se naturalmente.

Revela-se, faz-se saber

Muito antes de gestos

E muito além das palavras.

O amor exala, perfuma,

Propaga, denuncia,

Envolve, enleva, contagia.
Desvela-se no olhar,
Transparece...

Energia !

Flua nela !

Bommmmm dia !

Posse ou usufruto ?

Relações de posse consomem,
As de usufruto acrescentam.

Exercitam-nos, movimentam, enriquecem...

Indo além do poder,

Na interação.

A flor colhida facilmente fenece.

A natureza contemplada

Ainda depois do encantamento

Mantém-se imaculada...

Em recordação.

Pertencer e abastecer só se parecem.

Bommmmm dia !

Não chore sobre o leite derramado

Às vezes o melhor a fazer é considerar a "perda" como preço do aprendizado,

Como investimento compulsório.

E, ao invés de chorar sobre o leitte derramado, produzir um derivado :

Tirar daí uma lição... e aplicá-la... modificando a ação !

Bommmmm dia !





Coincidência

Algo acontece

Sem que pareça.

Atos inopinados

E encontros fortuitos

Encenam o aparente imprevisto.

Emergem...

Dando ares de acaso.

Surgem...

Desvelando segredos

Desconhecidos

... ou bem guardados.

Algo acontece...

E a desatenção não percebe

O presente encoberto

Do instante encantado.

Bommmmm dia !