Somos seres complexos, de muitas camadas. Passamos, às vezes, tempo demais usando a mesma casca, sem nos despirmos, sem trocarmos de pele, sem identificarmos nossas porções subjacentes. Mas elas estão lá. O tempo se encarrega de trazê-las à tona, de evidenciar cantos, soltar algumas pontas. Mas puxá-las, observá-las, vesti-las é tarefa de cada um.
Nosso cerne, nosso eu verdadeiro, é envolvido por tantas mantas protetoras, fica tão bem escondido, que passa despercebido até mesmo por nós. Quantos sobrevivem apenas em superfície, sem ver correr suas seivas, sem alimentar suas raízes ?! Muitos secam sem se saborear, sem se conhecer.
O mundo pede que sejamos superficiais, que realizemos, que nos façamos produtores, que estejamos gerentes... sem grandes escavações. Não há tempo a perder ! Desejam-se resultados, não considerações, assertivas coletivas, questionamentos pessoais.
Para atender às exigências sociais, políticas, econômicas, calam-se as vozes da alma, deixa-se de molho os corações. Diz-se que eles terão sua hora, terão lugar... “depois”. Terão ? A vida passa. O tempo pra esperar ?
Tantos são os prisioneiros soltos, não trancafiados... em cadeias invisíveis, de muros inconscientes, grades sem cadeados. Quantos, em prisões bonitas, estão atados a mundos de dúvidas, incertezas, ou ao futuro, ou ao passado ? Quantos não têm idéia de quem são, seguindo roteiros impostos, alheios ?
Tememos julgamentos, tememos nossas próprias descobertas... e nos deixamos limitar. Perdemos a liberdade de nos conhecer, assumir e amar.
Escavar e descobrir não precede o lapidar ?
Bommmmmm dia !